Fonte: Jornal do Comércio
A desaceleração da economia dos Estados Unidos e a concorrência chinesa farão a economia brasileira crescer 3,3% em 2009, nível menor que o previsto pelo Fundo Monetário Internacional (FMI), que reduziu sua projeção de alta do Produto Interno Bruto (PIB) do País de 4% para 3,5%. A afirmação é da União Européia (UE), feita ontem em seu relatório sobre a economia mundial. "As economias emergentes pareciam mais resistentes até agora. Mas a perspectiva é mais sombria", afirmou a Comissão Européia.
A UE também avalia que o ritmo de expansão das exportações vai cair pela metade e a América Latina passará em 2008 a ter seu primeiro déficit em sua balança de pagamentos em seis anos. Segundo a UE, o Brasil está sofrendo ao mesmo tempo uma desaceleração na economia americana e uma maior exposição à competição de produtos chineses em terceiros mercados. Outro país que sofre do mesmo problema é o México, que terá um crescimento de apenas 0,8% em 2009. A avaliação da Europa é de que o Brasil sofrerá com a queda na demanda nos Estados Unidos para suas exportações.
A UE também prevê que o superávit nas contas correntes obtido pela América Latina nos anos anteriores seja revertido em um déficit já em 2008. No Brasil, a balança vem começando a mostrar um incremento mais rápido das importações que das exportações. Isso porque os mercados de destino das exportações nacionais estão em franca queda, enquanto o mercado doméstico brasileiro continua relativamente estável.
Segundo a UE, a expansão das exportações brasileiras irá se desacelerar. Em 2008, as vendas deverão crescer em 5,2% em volume, contra 2,6% em 2009 e 4,2% em 2010. Em 2009, a expansão das exportações latino-americanas será de apenas 1, 1%. Os dados se contrastam com a expansão de 15% nas exportações em 2004 ou de 8% em 2007.
Na China, o crescimento das exportações passará de 11% em 2007 para 4% em 2009 e 7% em 2010. Já o mundo observará uma queda de 5,3% para 2,4% na expansão do comércio entre 2008 e 2009. No lado das importações, o Brasil observará uma alta de 16% em volume em 2008, contra uma expansão de 4,4% em 2009. Em 2010, as importações continuarão a crescer em 9,6% em volume, taxa bem acima da média mundial e demonstrando a recuperação do mercado interno. A expansão da importação a um ritmo bem superior às exportações deve acabar reduzindo de forma drástica o superávit comercial. Em toda a América Latina, a realidade é parecida e a UE prevê que, até 2010, a região tenha perdido pelo menos um terço de seu superávit.
No que se refere à balança de pagamentos da região, ela passará de um saldo positivo de US$ 17,2 bilhões em 2007 para um déficit de US$ 54,5 bilhões em dois anos. A UE estima que Argentina e Venezuela também enfrentarão uma forte desaceleração já em 2008 e que esses países sofrerão com uma inflação alta.
Para Bruxelas, os países exportadores de commodities apenas vão voltar a acelerar em 2010. "Na América Latina, o ambiente externo desfavorável e maiores dificuldades de financiamento estão atrapalhando o crescimento na maioria dos países em 2008", afirmou a Comissão Européia em seu relatório publicado ontem sobre a economia global.
Para a UE, o PIB mundial crescerá apenas 3,75% em 2008, contra mais de 5% em 2007. Para 2009, a queda é ainda maior, com taxa de crescimento de apenas 2,2%. Só em 2010 é que a recuperação começará a ser sentida com a estabilização dos mercados financeiro e retomada do comércio. A UE admite que os fundamentos de várias economias emergentes hoje estão em melhor situação para enfrentar a recessão nos Estados Unidos, na Europa e no Japão. O crescimento dos mercados internos também está sendo um fator que está evitando uma crise maior, inclusive mantendo o comércio intra-regional. "Nenhuma economia deve escapar da atual crise financeira, particularmente aqueles com relações próximas aos EUA", disse.